Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital.
Desagua douro de pensa mentos.
quarta-feira, maio 01, 2024
O PRIMEIRO DE MAIO FOI UM FIASCO! VIVA O PRIMEIRO DE MAIO!
GILBERTO MARINGONI
1. A PRINCIPAL COMEMORAÇÃO do Primeiro de Maio no Brasil foi um fiasco completo, de público e de conduta política. A principal comemoração do Primeiro de Maio não poderia ser um fiasco, mas isso não acontece por acaso. Fiascos são pacientemente planejados e construídos. Logo, o fiasco na comemoração do principal ato de Primeiro de Maio não deve surpreender ninguém.
2. O PÚBLICO NO ESTACIONAMENTO do Itaquerão foi magro, magérrimo. Com muita boa vontade pode-se dizer que havia ali 4 mil pessoas. O problema não foi falha "na convocação". O problema é perguntar o que levaria um trabalhador paulistano que rala a semana toda a sair de sua casa para ouvir passivamente um palavrório sem fim sob um sol saariano, sem que houvesse sequer um apelo político. "Venha comemorar o dia do trabalhador e da trabalhadora", vamos combinar, não anima ninguém.
3. O FIASCO FICA MAIOR quando se sabe que no palco estaria o presidente Lula e o candidato favorito à disputa eleitoral da principal cidade do país.
4. A INTERVENÇÃO de Lula - ruim - nos fornece pistas do que está errado. O presidente da República não fala de política, não fala de enfrentamento, não chama ninguém a se engajar para disputar mais verbas para o desenvolvimento, mais financiamentos para a industria e o emprego, não toca na chantagem que sofre por parte do centrão, do mercado e dos militares. Diz que tudo vai bem, que não há problemas, que o governo gerou xis milhões de empregos, entregou xis milhões de novas moradias, vai desonerar xis produtos, vai abrir xis institutos federais e que quem quiser saber mais que vá ao site ComunicaBR, feito pelo ministro Paulo Pimenta, que fica sabendo de tudo que o governo está fazendo pelo país. Números, números, feitos, feitos etc., etc. e muito mais.
5. É UM POLÍTICO TRADICIONAL jogando confete em sua gestão, que é acompanhado por um jovem político tradicional, candidato à prefeitura da principal cidade do país a dizer que Lula é o melhor presidente que esse país já teve e a dizer que vai fazer isso e aquilo, numa espécie de prestação de contas antecipada. Parece fazer cosplay do antigo político tradicional, até na modulação de voz.
6. O FIASCO DO PRIMEIRO DE MAIO não é a expressão da falta de uma palavra de ordem num panfleto, mas a resultante de um governo que - tirando o ajuste fiscal - não parece ter projeto ou rumo claro.
7. ESPERO QUE O PETISMO mais exaltado pare de comemorar o fato de Bolsonaro ter fracassado ao colocar apenas 32 mil pessoas em seu último ato em Copacabana, em 21 de abril, e busque examinar políticamente o que acontece quando se abre mão de enfrentamentos, como marcar o golpe de 1964 ou a Revolta da Chibata diante do golpismo militar, de se desmontar o austericídio, como avalia o próprio PT, quando se entrega sem resistências pedaços do Estado à extrema-direita na mão grande.
8. UMA ÚLTIMA RESSALVA: este não é um governo de conciliação. Grandes ganhos foram conquistados pelos trabalhadores com políticas de conciliação. Ela ocorre quando um lado propõe algo, outro propõe coisa distinta e a resultante é um meio termo capaz de contantar a todos. O que temos não é isso. O que temos é um governo que abdica de colocar suas propostas na mesa contra os inimigos. Em outras palavras, trata-se de uma conduta que quase sempre leva à rendição sem luta.
NA FOTO, o palco e o público do Itaquerão, no momento em que Lula discursava
New York demonstrations spread after mass arrests -
"The scenes unfolding across New York City sent an unequivocal message: From publicly run colleges to elite universities, demonstrations in support of Palestinians would not be subdued by mass arrests."
See the sky about to rain Broken clouds and rain Locomotive, pull the train Whistle blowing through my brain Signals curling on an open plain Rolling down the track again See the sky about to rain
"The murders of Marielle Franco and Anderson Gomes were a crude mechanism for protecting illegal real-estate and other criminal interests of milícias and their political allies. If Bolsonaro’s government “became an instrument of crime”, then the highest levels of political and economic power are at the heart of the labyrinth concealing the secrets of the murders of Marielle Franco and Anderson Gomes. The thread of truth and justice will need to be very strong if this monster is to be removed from its lair."
Carlos Leonam, o jornalista morto semana passada, foi um dos inventores da Ipanema mítica dos anos 60, criador do ritual de aplaudir o pôr do sol e redator primeiro da expressão “esquerda festiva”. Um carioca genial. Ele gostaria, no entanto, tenho certeza, que, ao se escrever o parágrafo de abertura do seu extenso currículo, o autor do texto desprezasse essas glórias públicas. Lembrasse de um mérito particularmente mais sublime — a noite fria em que foi a um restaurante do bairro com a mulher mais bonita do mundo naquele momento, agosto de 1965, a atriz italiana Claudia Cardinale.
Ela viera ao Rio filmar “Uma rosa para todos”, e Leonam, um homem bonito, enturmado, repórter da Tribuna da Imprensa, logo estava com a atriz embarcada no seu fusca azul. Se houve ou se não houve alguma coisa a mais entre eles dois, ninguém pode até hoje explicar. Cavalheiro, Leonam desconversava. Contava apenas, e já bastava para molhar o babador dos machos ao redor, que naquela noite, ao se aproximar do restaurante e ver os paparazzi à espera, Cardinale combinou:
“Quando a gente sair do carro, você bota a mão no meu ombro, e vamos matar teus amigos de inveja.”
No Jornal do Brasil, entre 1967 e 1968, Leonam escreveu a coluna “Carioca quase sempre”, uma coleção fundamental para quem quiser saber dos anos dourados da boemia intelectual de Ipanema.
A performance do elefante no lançamento de um livro no bar Varanda da Nossa Senhora da Paz, a origem da palavra fossa como sinônimo de depressão, a modernidade da modelo Duda Cavalcanti e o coelho do Jangadeiro, que o cartunista Jaguar achava ser o início de um delirium tremens, mas era um coelho mesmo, criado entre as mesas pelo dono do bar — a tudo isso Leonam deu testemunho e, com texto fino, numa bossa editorial que antecipava o Pasquim, publicou no jornal.
Era um embaixador da república ipanemenha. Elegante, conheceu os jovens Mick Jagger e Marianne Faithfull numa roda de boa conversa, como diziam os colunistas da época, no apartamento de Fernando Sabino — e, dado o match, levou o casal para esticar no Antonio’s. Explicou ser a versão carioca do Chelsea Potter, o pub badalado da King’s Road, mas sem dar detalhes das extravagâncias locais. No bar, um bêbado logo se invocou com o estilo hippie do roqueiro e, aos gritos de “tinha pra homem onde você comprou?”, fez um barata-voa com o chapelão dele.
“No futuro você vai usar um”, gracejou Jagger, sempre zen, e recebeu de volta com o chapéu as desculpas do fotógrafo David Zingg, “I apologize for Rio”, que bebia na mesa ao lado com Zózimo Barrozo do Amaral. Na coluna, parodiando a recém lançada gíria do “falou e disse”, Leonam escreveu: “Mick spoke and said”.
Ele foi um historiador dos bares, das barracas de intelectuais no Posto 9, e foi também quem sugeriu ao prefeito Júlio Coutinho a troca do nome da Montenegro para Vinicius de Moraes. Antes que eu tenha ideia parecida, de dar ao jornalista a placa de alguma rua do bairro que ele ajudou a lançar para a mitologia dos paraísos internacionais, é melhor ficar por aqui. Deixar apenas este abraço do Joaquim no Manoel (Leonam ao contrário) e a eterna invejinha branca pelo que houve ou que não houve com a Cardinale.
Conheci o escritor Paul Auster quando ele veio à Flip. Lindo, com um jeito sempre irônico de falar, rosto de galã de filme francês, um cigarro na boca, uma risada rouca e forte, ele era sempre o centro das atrações em qualquer roda que se formasse.
A essas alturas eu já havia lido seu maravilhoso “A noite do oráculo”. O livro tem algo de biográfico, sendo seu próprio filho um personagem dramático da obra. Cheia de suspenses e ambiguidades, com um estilo direto e quase seco, a literatura de Austen é toda feita de imprevistos, fracassos e desastres também. O livro mexeu comigo.
Pois, mesmo sabendo que andava doente, não consigo acreditar que acaba de falecer Paul Benjamin Auster. Ele tinha 77 anos e sofria com um câncer no pulmão. Li também “O Livro das Ilusões” e “A Música do Acaso”. Escreveu a trilogia de NY que se completava com os livros: “Quarto escuro”, “Cidade de vidro”, “Fantasmas” Você nunca mais passará pela cidade de Ny da mesma maneira depois de ler Auster.
Paul Auster era também exímio tradutor. Em 1970 ele pede licença na Universidade de Columbia e vive durante quatro anos na França. A sua proximidade com a literatura francesa ficaria marcada para sempre. Foi confesso admirador de André Breton, Paul Éluard, Stéphane Mallarmé, Sartre e Blanchot, alguns dos quais traduziu para a língua inglesa.
Costumava aconselhar jovens escritores a traduzir poesia para entendessem melhor o sentido profundo das palavras. Além destes autores, Paul Auster citava ainda como suas grandes influências: Dostoiévski, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Faulkner, Kafka, Hölderlin, Samuel Beckett e Marcel Proust.
Vivia no Brooklyn, Nova Iorque, com a sua mulher, (a excelente escritora e crítica de arte) Siri Hustvedt. Um autor como ele fica na história, junto com seus livros e traduções que nunca foram mais atuais. Vejo Auster em cada um dos parágrafos, em cada quebra de sentença, em cada situação que cria. Muita pena nos deixar assim cedo. Corre pra ler! Quero passar o feriado relendo e maratonando Paul Auster.
"History is more than just innovations and triumphs. In truth, much of it involves numerous instances of brutality, warfare, and other unsettling, regrettable realities.
Take a look below at some of the most haunting moments from history
Embarco entendendo que sou uma das pessoas entrando do outro lado
dessa cadeia da indústria da guerra. Que nossa jornada para chegar em
Gaza com medicamentos e alimentos que combatam a fome gritante nos
colocava potencialmente junto com o povo palestino na mira dessas balas e
dessas bombas.
Eu tenho total ciência de que os governos de Estados Unidos e Israel
farão de tudo para impedir que a Flotilha da Liberdade alcance Gaza e
rompa o bloqueio. Eu e todas as mais de mil pessoas entendemos que os
riscos são enormes, mas também entendemos que deve ser feito.
Depois de fazer tudo que estava ao meu alcance do Brasil, do Egito e
mobilizando tudo que pude nas redes, nas ruas, no parlamento, nos
veículos de comunicação, representar o Brasil na ação direta
não-violenta mais importante da nossa geração me parecia exatamente o
que eu deveria fazer.
No último trecho de vôo, pois após Istambul seguiremos de barco,
minha cabeça pensava nas várias ações não-violentas que foram
impactantes na história. Na corajosa luta de Gandhi durante a
independência da Índia, na inspiradora mobilização de Martin Luther King
Jr. e o movimento negro na luta por direitos civis nos Estados Unidos
(inclusive com “caravanas da liberdade”, que também desafiavam um regime
de segregação indo em ônibus para lá).
Lembrava das outras edições da Flotilha da Liberdade, que também
tentaram romper o cerco a Gaza com barcos com ajuda humanitária e foram
atacados por Israel (que em 2010 inclusive matou 10 ativistas durante a
tomada de um dos barcos).
Sobretudo, lembrava das ações de extrema coragem do povo palestino,
como as Grandes Marchas do Retorno, as greves de fome nos porões das
prisões israelenses, entre tantas outras ações não-violentas que o mundo
ignorou.
A verdade é que o povo palestino luta há décadas com uma grande
diversidade de táticas, grita de todas as formas possíveis e
imagináveis, mas o mundo só prestou atenção (antes de outubro) nas vezes
que os palestinos reagiam, então a grande imprensa utilizava essa
reação para tirá-la de contexto e culpar os próprios palestinos por sua
situação.
Desembarquei em Istambul me mantendo totalmente convencido do grande
propósito por trás dessa ação de solidariedade e do papel
histórico-politico dessa ação direta não-violenta para aumentar a
pressão sobre Israel para parar o genocídio e diminuir a fome de
milhares de palestinos em Gaza.
É madrugada aqui, então me resta encontrar o meu alojamento, dar
notícias ao grupo mais próximo de assistência no Brasil, me atualizar
sobre como está minha companheira Lara, milha filhota Teresa, minha mãe
(também Teresa), descansar e me preparar para encontrar amanhã todas as
delegações internacionais nos últimos preparativos antes de zarparmos
para Gaza.
É curiosa a sensação de fazer um diário de viagem novamente após tantos anos. As últimas vezes que fiz foram quando estive em Cuba,
nos territórios zapatistas em Chiapas, no México, e nas missões de
solidariedade aos povos Guarani-Kaiowá, todas há mais de 10 anos.
Desde então realizei diversas ações de solidariedade
internacionalista, mas não documentava diariamente as ações e
pensamentos. Espero que tenha utilidade e agregue algo para quem lê
No front da Ucrânia, frustração silencia esperança na vitória contra a Rússia
"Monya deixou o coração em Adviivka, mas escapou vivo. Naquela tarde
fria em Pokrovsk, estava indo para casa, no centro da Ucrânia. Desde que
a invasão russa começara, em fevereiro de 2022, teve o direito de ver a
família por apenas dez dias. Agora, uma vez mais, voltaria a ver a
mulher, a mãe e os dois filhos por outra semana e meia. Quando as
lágrimas secaram, perguntei a Monya se não estava cansado após tanto
tempo no front. Ele se calou."
Ontem, estive no Centro Municipal de Artes
Hélio Oiticica, no centro do Rio, onde o jornalista Francisco Ucha
relançou o seu livro “Ziraldo - Memórias”.
Ganhei um exemplar, autografado pelo Ucha.
O livro me surpreendeu. Além da longa
entrevista concedida ao “Jornal da ABI”, em 2012, a obra apresenta
prefácios, e depoimentos de velhos amigos do Ziraldo, como Ricky
Goodwin, Zuenir Ventura, Chico Anysio, Jaguar e Millôr Fernandes.
A seguir, um texto-apresentação, escrito
em 2017, pelo Jaguar para o “Jornal da Tarde”, de Salvador (BA), sob o
título “Ziraldo Day”:
“Se você digitar no Google “fatos
históricos do dia 24 de outubro”, ficará sabendo o principal
acontecimento da data em cada ano. Por exemplo: em 1917 foi o começo da
revolução russa. Em 1929, o crack da Bolsa de Nova York levou o país à
pior depressão econômica da história dos EUA. Em 1933 foi fundada
Goiânia e, em 1945, a ONU. E, no dia 24 de outubro de 1932, em Caratinga
(MG), nasce o cartunista, muralista, pintor, cartazista, logotipista,
cenógrafo, escritor e teatrólogo Ziraldo Alves Pinto.
Desde o século treze, no dia 4 de abril de
1421, quando nasceu o múltiplo Leonardo da Vinci, não acontecia algo
semelhante. Ninguém, nem o Leonardo é perfeito. Foi em 24 de outubro (a
partir de agora o Ziraldo´s Day).
Ziraldo sempre me deixou de queixo caído
pela capacidade de trabalhar noite adentro. Ele mesmo nos comparava à
cigarra e à formiga, o sagaz leitor já deve ter adivinhado quem era a
cigarra. Ele só parava quando o sol raiava, justamente quando eu chegava
de porre em casa e me jogava na cama, sem forças nem para tirar os
sapatos.
E também ficava embasbacado com a incrível
habilidade dele de desenhista, a firmeza do traço. Com a rapidez de um
golpe de florete, é capaz de desenhar um círculo perfeito, algo que às
vezes não consigo fazer nem com um compasso.
Ziraldo já deveria ter assento na Academia
Brasileira de Letras, há muito tempo, pelo conjunto da obra. Traduzido
em quase uma centena de idiomas, Flicts, de 1969, primeiro livro é -
como O Pequeno Príncipe, de Exupéry - uma obra prima. Quando os
primeiros astronautas visitaram o Brasil, foram presenteados pela
Embaixada Americana com exemplares de Flicts.
Outra coisa, a partir de 24 de outubro
teremos, até o final de fevereiro, a mesma idade: 85 anos. Já em março
voltarei a ser, como disse Ziraldo em uma entrevista, “muito mais velho
que ele”.
E é claro que ele está no Livro dos
Recordes como o artista que mais produziu cartazes do mesmo evento.
Convidado pelo amigo Dom Helder Câmara, em 1961, já fez 57 cartazes para
a Feira da Providência.
Como cartunista , tem coisas antológicas,
como o Super Homem sentado no vaso sanitário e a do sujeito com uma faca
fincada nas costas dizendo “só dói quando eu rio”. Como caricaturista,
nunca se dava por vencido; levou uma semana para conseguir fazer a
caricatura de Célia, minha mulher. Mas acabou ficando sensacional. Eu,
por mais que tentasse, nunca consegui.
Com a minha caneca cheia de cerveja sem álcool - levanto um brinde pelos 85 anos do Ziraldo, o - segundo ele - “irrebrochável”.
Documentos inéditos revelam como governo Bolsonaro tratou internamente a crise de Manaus
"Os membros do governo que se reuniam três vezes por semana, exatamente para planejar o combate à pandemia, não foram informados que o sistema de saúde em Manaus entraria em colapso, nem que pacientes morreriam de asfixia por falta de oxigênio.
O então ministro Eduardo Pazuello foi à cidade em 11 de janeiro, quando reforçou sua defesa do tratamento precoce. “Senhores, senhoras, não existe outra saída: nós não estamos mais discutindo se esse profissional ou aquele concorda. Os conselhos federais e regionais já se posicionaram, os conselhos são a favor do tratamento precoce, do diagnóstico clínico”, disse durante entrevista em Manaus.
No dia seguinte, 12, o presidente Jair Bolsonaro atribuiu as mortes à falta de tratamento precoce, comprovadamente ineficaz. “Olha o que estava acontecendo em Manaus agora. Vamos falar Amazonas porque Amazonas se resume, em grande parte, a Manaus. São poucas cidades lá. Mandamos ontem o nosso ministro da Saúde para lá. Estava um caos. Não faziam tratamento precoce”, disse a apoiadores no Palácio da Alvorada."
leia reportagem de Rubens Valente, Alice Maciel, Caio de Freitas Paes, Laura Scofield, Matheus Santino, Bianca Muniz, Thiago Domenici
Exposições de ZIRALDO que eu e Ana organizamos ou ajudamos a organizar:
O Menino Quadradinho (Correios, Rio) Homenagem ao Ziraldo (Serraria, BH) Jubileu do Ziraldo: 75 anos de um menino feliz (Correios, Rio) megaexposição com mais de 900 obras A Última Ceia do Ziraldo (Correios, Rio) Ziraldo, o Eterno Menino Maluquinho (Correios, Rio) Ziraldo, um Brasileiro (Quitandinha, Petrópolis, e itinerância) Ziraldo e as Crianças (Sesc, Rio) Ler é mais importante do que estudar (Sesc, Rio) Brincando com Ziraldo (Sesc, Rio) Salão do Humor de Ziraldo (MIS, Rio) Ziraldo, de A a Zi (Sesc, SP) megaexposição com mais de 600 obras
Exposições coletivas que contaram com a participação de ZIRALDO : Os Feras dos Quadrinhos Brasileiros (Angoulême, Paris) Os Feras dos Quadrinhos Brasileiros: edição ampliada (Rio e SP) Les Meilleurs Affiche du Brésil (Unesco, Paris) Quadrinhoteca 86 (Funarte, Rio) BD em SP (Sesc, SP) 20 Anos de Pasquim (Funarte, Rio) 20 Anos de Imprensa Altenativa (Salão de Humor, Teresina) Retrospectiva Anos 80 (Paço Imperial, Rio) - megaexposição com 800 obras I Bienal Internacional de Quadrinhos (Fundição Progresso, Rio) Brasil: Caricaturas (Salão do Livro, Bogotá) Lendo; Imagens (Gama Filho, Rio) II Bienal Internacional de Quadrinhos (Correios, Rio) Traçando a Fome (Ação da Cidadania, Rio) Homenagem à Mulher Carioca (Laura Alvim, Rio) III Bienal Internacional de Quadrinhos (Serraria, BH) Fumo: Apague essa Ideia (INCA, Rio) Homenagem ao Betinho (CCBB, Rio) A Folia do Traço (Laura Alvim, Rio) Anistia: 20 anos de Charges (Senado, Brasilia) Traço de Audiencia (Laura Alvim, Rio) Plim-Plim (Laura Alvim, Rio) O Humor em Tempos de Guerra (Laura Alvim, Rio) Ao Mestre, com Humor (Correios, Rio) O Melhor do Pasquim (Correios, Rio) Cartunistas da America do Sul (Correios, Rio) Chico Anysio, botando a cara a traço (Globomídia, Rio e SP) Traços Impertinentes (Justiça Federal, Rio) Grandes Personagens de Chico Anysio (Ibirapuera, SP) Craques do Cartum na Copa (CCBB, Rio) Quadrinhos como Narrativa (ABL, Rio) Na Trincheira do Humor: a história da ditadura contada através do Pasquim (Bienal do Livro, Brasilia) Pasquim: 40 Anos (Correios, Rio) Brasil, incontáveis linhas, incontáveis histórias (Biblioteca Nacional, Rio; Salão de Bologna, Itália) Nós também somos Charlie (Biblioteca Parque, Rio) Traço Livre – dos limites do humor à liberdade de expressão (Scenarium, Rio) Memórias do Pasquim (Biblioteca Nacional, Rio) Pasquim 50 Anos (Sesc, SP)
Foi o artista com quem eu convivi mais ...
Esta postagem é dedicada à Tia Regina secretária e guardiã do acervo do Ziraldo que sabia de cabeça onde estava cada desenho ou papel e que dava broncas quando a gente ia ao estúdio em busca de obras, dizendo que estávamos tirando tudo do lugar!
O trajeto de Brasília a Guarulhos e, depois, de Guarulhos a Frankfurt
foi fazendo uma maquiagem em minhas redes sociais para pisar em
território alemão em melhores condições.
Fiz uma dúzia de postagens seguidas para deixar a visão inicial da página do Instagram (@thiagoavilabrasil)
como “inofensiva”. Sai o “internacionalista, comunicador,
socioambientalista e revolucionário” e entram fotos e mensagens para dar
a entender que aquela pessoa passando pelo país mais hostil da União
Europeia era apenas um “influencer vegano”.
Parece uma coisa sem sentido (e é até engraçado incorporar esse
personagem), mas é extremamente eficaz. Foi assim que até Israel me
deixou entrar em 2019, quando conheci enfim a Palestina, vi na prática
os horrores do Estado de apartheid implementado na Cisjordânia ocupada,
cheguei até as fronteiras norte e leste de Gaza (mas não pude entrar) e
conheci os territórios que o sionismo ocupou em uma limpeza étnica que
se inicia em 1947 e se intensifica nos dois anos seguintes com a
formação do Estado de Israel.
Eu já acompanhava, estudava e apoiava a causa Palestina desde 2006,
mas foi apenas quando estive lá presencialmente (e na fronteira sul pelo
Egito em novembro de 2023), que compreendi o tamanho do horror ao qual
esse povo está submetido há mais de 76 anos.
Chego no aeroporto de Frankfurt com as pessoas mais próximas em
prontidão. A política alemã de repressão aos movimentos solidários à
causa Palestina é de tolerância zero. Prendem as pessoas em casa por
postagens em redes sociais, atacam congressos acadêmicos (inclusive de
judeus que muito corajosamente se posicionam contra a ideologia racista e
supremacista que é o sionismo), obrigam a reconhecer e legitimar o
Estado de Israel antes de concluir o processo de requerentes de
cidadania alemã, defendem Israel nas instâncias internacionais e
pressionam outros países sob sua influência para que não se posicionem a
favor do povo palestino.
Pelo trabalho que realizo em solidariedade à Palestina, que ganhou
mais alcance com os vídeos virais após outubro, com as manifestações
massivas que realizamos e com os debates (difíceis) com sionistas e
propagandistas de guerra em podcasts e entrevistas de TV, além de minhas
idas à região para articular com movimentos locais e fortalecer os
esforços de denúncia e ajuda humanitária, não tenho dúvidas de que teria
problemas na imigração alemã se eu fosse identificado por fazer esse
trabalho.
Felizmente, dessa vez não fui. Passei em todos os procedimentos de
segurança e não saí do aeroporto para aguardar o vôo para Istambul
poucas horas depois.
A insistência da televisão alemã em defender Zelensky e Netanyahu é
de embrulhar o estômago, assim como a hipocrisia de Joe Biden, que alega
ter sensibilidade às vidas palestinas em sua campanha (quase
naufragada) à reeleição, mas segue sendo sócio do genocídio palestino,
enviando armas, protegendo Israel com seus porta-aviões e fragatas de
guerra, pressionando países vizinhos para impedir a solidariedade e
bloqueando a implementação de medidas diplomáticas e judiciais que
pudessem parar a mão genocida de Israel.
Na prática, eu embarco para Istambul entendendo que a maior violação
de direitos humanos existente no mundo hoje está prestes a se agravar
ainda mais, com novos 26 bilhões de dólares que Israel receberá de
“ajuda” de Washington. O que já era inaceitável, insustentável,
inadmissível, ganhou mais recursos e energia da maior potência imperial
do mundo como um “presente” para se intensificar e prolongar.
Pedro Miranda feat. Bebê Kramer e Guto Wirtti | Oración Del Remanso
Soy de la orilla brava del agua turbia y la correntada Que baja hermosa por su barrosa profundidad Soy un paisano serio, soy gente del remanso Valerio Que es donde el cielo remonta el vuelo en el Paraná
Em cruzada contra Ziraldo, ditadura perseguiu até Jeremias, o Bom
Cartunista amargou três prisões e perdeu cinco empregos por pressão militar
Por Bernardo Mello Franco
Em maio de 1974, o presidente da Caixa Econômica enviou uma carta ao
ministro da Justiça. Queria ouvi-lo sobre as “implicações
político-ideológicas” de renovar um contrato de publicidade da Loteria
Federal. A campanha era estrelada por um famoso personagem de
quadrinhos: Jeremias, o Bom. O que preocupava era o criador do desenho: o
cartunista Ziraldo, persona non grata para a ditadura militar.
A correspondência de Karlos Rischbieter deu origem a um processo
sigiloso, que passou a perambular pela burocracia do regime. Consultada,
a Divisão de Segurança e Informações sustentou que o artista gráfico
seria ligado a “atividades subversivas”. Apoiou o movimento estudantil,
foi fichado como comunista e publicou um desenho que intrigou o
tenente-coronel aviador Juarez de Deus Gomes da Silva.
O cartum mostrava o encontro de duas letras sigma, símbolo do
integralismo. Elas se enroscavam até formar uma suástica, emblema do
nazismo. “O nominado fez publicar vários signos (sic), fazendo crer que
tentava estabelecer uma comparação entre regimes de duas épocas”, anotou
o chefe da GSI. “Suas charges e manifestações públicas seguem
normalmente uma linha contestatória ao regime, segundo os interesses da
propaganda adversa”, concluiu o oficial da Aeronáutica.
O dossiê seguiu para a Polícia Federal, que acrescentou mais notas ao
prontuário de Ziraldo. Em tom de reprovação, o delegado Sérgio Maciel
Valim informou que ele assinou um manifesto contra a prisão de
intelectuais, os famosos Oito do Glória, e ajudou a organizar a Passeata dos Cem Mil. “Muitos de seus desenhos satirizam atuações governamentais”, acrescentou.
O doutor ainda pôs em xeque o insuspeito Jeremias — uma figura dócil e
resignada, incapaz de fazer mal a uma mosca. “Segundo análise de um OI
(oficial de inteligência), o personagem Jeremias, quando apresenta um
anúncio da CEF, aparece com o rosto cheio de traços, simbolizando
sentimento de vergonha”, assinalou o diretor da PF.
O papelório passou por seis repartições até pousar na mesa do ministro
da Justiça. Depois de 24 dias, Armando Falcão deu o veredicto ao
presidente da Caixa: “Confirmo a Vossa Senhoria a inconveniência da
renovação do contrato com o humorista Ziraldo Alves Pinto”. Era o fim da
carreira de Jeremias como garoto-propaganda de loteria.
O processo é uma pequena amostra da perseguição a Ziraldo na ditadura. O
cartunista foi preso três vezes sem direito a julgamento. Conheceu as
celas do Forte de Copacabana, do Dops, da Vila Militar e do Regimento
Caetano de Faria, atual sede do Batalhão de Choque da PM. Perdeu ao
menos cinco empregos por pressão política, sem contar a censura e a
asfixia econômica ao Pasquim.
Em 2008, a Comissão de Anistia considerou que ele merecia um pedido
oficial de desculpas e uma reparação financeira. O julgamento rendeu a
Ziraldo uma pensão mensal de R$ 4,3 mil, uma indenização de R$ 1 milhão e
uma saraivada de críticas por aceitar receber dinheiro público.
Curiosamente, o imbróglio com a Caixa não é citado nos autos. O dossiê
foi microfilmado e pode ser lido no Arquivo Nacional.
Thiago Ávila será o representante do Brasil na expedição até Gaza.; ele escreverá um diário no ICL Notícias durante a viagem
Uma coalizão de organizações e ativistas de mais de 30 países, a
Flotilha da Liberdade, que há 14 anos realiza expedições marítimas com
ajuda humanitária, partirá de Istambul com o objetivo de desafiar o
bloqueio israelense na Faixa de Gaza e levar 5 toneladas de alimentos e
remédios ao povo palestino.
“Todas as mais de mil pessoas que estão aqui têm a sorte
de participar de algo que entrará para a história, mas elas não estão
sozinhas. É sabendo que milhões de pessoas estão em coração com a gente
que me comprometi a fazer um diário de toda a jornada. Uma alegria que
foi abraçada pelo ICL, um dos veículos mais dedicados desde o início a
cobrir e denunciar a catástrofe que está ocorrendo contra o povo
palestino em Gaza”, afirma Thiago Ávila, profissional de Relações
Internacionais que irá representar o Brasil.
Israel mantém Gaza sob ocupação militar desde 1967 e sob cerco total
desde 2007. Isso significa que qualquer criança de 0 a 17 anos (a
maioria da população de Gaza está nessa faixa etária) nunca viveu um dia
em liberdade.
As restrições impostas por Israel mesmo antes de outubro de 2023
impediam a entrada de itens essenciais como equipamentos médicos,
alimentos (que ultrapassasse um cruel cálculo de calorias para cada
pessoa, mas ainda mantendo a insegurança alimentar), materiais escolares
e até itens como vestidos de noiva, chocolates e óculos de mergulho.
“A fome está sendo utilizada por Israel como uma arma de
guerra. Na história recente, a situação que o povo de Gaza enfrenta só é
comparável à situação que duas regiões da Somália passaram em 2011 e em
partes do Sudão do Sul em 2017, com a diferença de que em Gaza hoje
toda a população está sendo submetida a esse crime contra a humanidade”,
afirma Thiago Ávila.
As restrições, que já faziam organizações denunciarem Israel por
transformar Gaza na “maior prisão sem teto do mundo” pioraram muito após
outubro de 2023, quando o ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou
que os palestinos em Gaza ficariam sem água, sem comida, medicamentos ou
eletricidade como punição coletiva após os ataques de 7 de outubro.
“Nós estamos enfrentando animais humanos e agiremos de acordo”,
afirmou o ministro quando fechou totalmente as passagens para ajuda
humanitária de Israel, além do cerco marítimo e aéreo e o controle que
detém sobre a fronteira de Rafah, que separa o Egito do sul de Gaza.
“Antes da intensificação do cerco, 500 caminhões entravam diariamente
em Gaza com ajuda humanitária e já existia insegurança alimentar. Há
quase 200 dias Israel restringiu a entrada para 0 a 200 caminhões
diários, sendo a média dos últimos dias de 181 caminhões. O que já era
um campo de concentração, se tornou um campo de extermínio, com mais de
34 mil pessoas assassinadas, entre elas mais de 14 mil crianças, e com a
fome se tornando um risco de morte ainda maior que as bombas de
Israel”, afirma Ávila.
Diante da intransigência de Israel, alguns países começaram a
realizar entregas aéreas, porém com alcance limitado. Esse método é mais
caro, perigoso (pessoas já morreram esmagadas ou afogadas, quando caem
no mar) e serve mais para manobras de relações públicas de governos que
querem aparecer como solidários à catástrofe humanitária palestina.
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, por exemplo, principal
aliado estratégico de Israel e maior fornecedor de armas, segue enviando
bilhões de dólares em ajuda militar incondicional, mas faz entregas
aéreas de comida para diminuir o impacto sobre a opinião pública
estadunidense em período eleitoral.
“Quando os governos falham, as pessoas comuns precisam dar um passo à
frente. A Flotilha da Liberdade denuncia a inação dos governos e
organismos internacionais para deter o genocídio. O que essas mais de
mil pessoas estão fazendo colocando suas vidas em risco era papel dos
governos e organismos multilaterais internacionais. Mas, se os governos
não fazem, as pessoas comuns terão que deter o genocídio contra o povo
palestino através de seus próprios meios”, aponta Ávila.
Ele afirma que os ativistas da Flotilha estão colocando suas vidas em
risco “para cumprir uma decisão da maior instância jurídica mundial,
que Israel ignora para manter o genocídio e os governos do mundo não
fazem o suficiente para impedir.
Quem tem consciência e humanidade não pode silenciar diante da maior
violação de direitos humanos de nossa geração, e precisa empenhar seus
melhores esforços para interromper essa catástrofe”, ressalta.
“As medidas preliminares do Tribunal Internacional de
Justiça ordenadas contra Israel são muito claras”, comenta Ismail Moola,
da Aliança de Solidariedade à Palestina da África do Sul, parte da
Coligação da Flotilha da Liberdade. “A decisão do tribunal exige que o
mundo inteiro desempenhe o seu papel para impedir o genocídio que se
desenrola em Gaza, incluindo o acesso desobstruído a ajuda vital.”
A Flotilha da Liberdade (ou Freedom Flotilla Coalition — FFC) é uma
coligação internacional suprapartidária de campanhas que defendem a
liberdade e os direitos humanos. As expedições acontecem desde 2010 com o
objetivo de quebrar o bloqueio a Gaza, em solidariedade com os gritos
dos palestinos por liberdade e igualdade.
‘The only faithful relationship Trump’s ever been in is with the National Enquirer’
“Wow, this guy is incapable of keeping his mouth shut for two minutes,”
said Klepper. “Has Trump ever considered paying himself hush money?
Think about it.”
- Já se disse e publicou tudo sobre Ziraldo, depois da sua lamentável partida. Ou não?
Francisco Ucha acha que não. E traz, em boa hora, o histórico e memorável “Ziraldo - Memórias” (Ucha Editorial - 160 páginas); um livro-homenagem a um dos mais importantes artistas gráficos e escritores do mundo, falecido no último dia 6 de abril.
Autor de obras célebres como ‘Turma do Pererê’, ‘Flicts’, ‘Os Zeróis’ e ‘O Menino Maluquinho’, entre outros; Ziraldo foi também jornalista, cartunista, ilustrador, cartazista, cronista, humorista, escritor e editor de sucessos como o suplemento ‘Cartum JS’, o jornal ‘O Pasquim’ e a revista ‘Bundas”.
“Ziraldo – Memórias” traz, na íntegra, a extraordinária entrevista biográfica concedida por Ziraldo ao jornalista Francisco Ucha, na época, editor do ‘Jornal da ABI’ (órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa, distribuída a jornalistas).
Este depoimento definitivo aconteceu em 2012, quando o mestre do traço comemorava os seus 80 anos de vida.. “Ziraldo - Memórias” retrata uma viagem onírica pelas lembranças do cartunista sobre sua vida, sua arte e sobre Caratinga, sua cidade natal; uma espécie de ‘Amarcord’ ziraldiano.
A obra traz ainda depoimentos exclusivos, como o do jornalista Zuenir Ventura, autor de “1968: O Ano Que Não Terminou” e da cineasta Marisa Furtado de Oliveira, realizadora do documentário “Ziraldo, profissão cartunista”.
O jornalista Rick Goodwin que foi trazido de Minas Gerais, em 1972, pelo Ziraldo, para editar as famosas entrevistas do ‘Pasquim’, escreveu o belo prefácio.
Os textos adicionais e parte das pesquisas foram realizadas pelo jornalista Marcos Eduardo Massolini. As fotos, clicadas durante a histórica entrevista, são do Duayer, cartunista e fotógrafo do ‘Pasquim’ nos anos 70 e 80.
A bela capa traz uma caricatura do Ziraldo desenhada pelo premiado caricaturista Luiz Carlos Fernandes.
Depoimentos dos amigos também são parte memorável do livro: “Mexeu muito comigo... O livro ficou lindo!” - Ricky Goodwin.
“Ucha, meu amigo, que belo livro! A longa e detalhada entrevista compõe uma obra que Ziraldo jamais produziu: suas memórias. Ele é um personagem único, caipira e cosmopolita, que viveu plenamente as transformações políticas, sociais e culturais de mais de seis décadas do país e do mundo. Os textos iniciais complementam um volume primoroso.” - Maringoni, cartunista. “Pô, achei do cacete o livro. Resgata a vida profissional do Ziraldo todinha. Coisa que ninguém sabe. Muito legal.” - Duayer, cartunista e fotógrafo.
"Pouca gente é como Ziraldo, que junta espírito de luta com carinho pelos outros" – Ana Arruda Callado, jornalista. "Ziraldo já deveria ter assento na Academia Brasileira de Letras, há muito tempo, pelo conjunto da obra" – Jaguar, cartunista.
"Sua frustração maior é não ser um escândalo nem uma calamidade. Pois, popularíssimo, acha, como eu, que merecia ser mais incompreendido.” – Millôr Fernandes, escritor, humorista. "Ziraldo é assombroso como trabalhador infatigável, sem que a multiplicidade de encargos, livremente assumidos, sacrifique a excelência de suas realizações e a eficaz execução de seus projetos" – Mauricio Azêdo, jornalista.
"Senhor de um traço pessoal e moderno" – Wilson Figueiredo, jornalista.
"Tive a honra e o privilégio de ler e é simplesmente imperdível e obrigatório para quem curte quadrinhos, literatura e artes visuais". - Gerson Luiz Teixeira.
*Neste sábado dia 27/4 o autor estará no #centercomics para lançar "Ziraldo - Memórias", às 11 horas no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rua Luís de Camões, Prç. Tiradentes, 68, Rio de Janeiro.
É difícil odiar Tom Ripley, o vilão incerto desfiado em cinco livros de Patricia Highsmith. Mas é difícil, também, gostar de Tom Ripley, o anti-herói pusilânime de filmes e peças adaptados da obra da romancista americana morta em 1995. "Ripley",
versão mais recente que estreou nesta quinta (4) como minissérie na
Netflix, é a que mais sublinha esse caráter ambíguo do personagem.
Há alguns culpados para isso.
O primeiro é o ator Andrew Scott, que já brilhara em "Fleabag" e "Todos Nós Desconhecidos".
Com uma delicadeza sombria e melancólica, ele acentua essa fugacidade
do personagem, dotando-lhe de uma espécie de redoma que o protege e o
aparta do mundo, em uma solidão perpétua alimentada pelas coisas que não
tem ou perdeu: dinheiro, amigos, amantes, família, reconhecimento,
propósito.
Já houve ripleys de Alain Delon, Matt Damon, John Malkovich.
O Ripley de Scott é impenetrável, e, ao mesmo tempo, vulnerável entre
gestos hesitantes que só ganham segurança quando ele está falsificando
ou se passando por alguém.
Outro é Steven Zaillan, roteirista de "A Lista de Schindler",
que faz dessa desconexão do protagonista um trunfo. Sua obra
frequentemente exalta heróis improváveis, via de regra solitários. Aqui é
que ele acumula bravamente a função de diretor, após parcerias com Steven Spielberg e Martin Scorsese.
E há Robert Elswit, cuja fotografia cristalina em preto e branco
sublinha a solidão do personagem a cada quadro. Elswit, que já havia
feito mágica nos filmes "Boa Noite e Boa Sorte" e Sangue Negro" —este
lhe valeu um Oscar—, catalisa para o espectador os sentimentos de Ripley
nas muitas cenas com água. Plácidas na superfície e revoltas ou
sombrias abaixo dela, o mar da série espelha o personagem de Scott.
Por fim, claro, há a própria Highsmith, a autora genial de "Pacto
Sinistro" e "Carol", que pôs muito de sua solidão e seu cinismo com o
mundo neste personagem, criado com sutilezas e nuances suficientes para
nos fascinar sem nos impor veredictos.
A saber, Ripley é um trambiqueiro que vive em Nova York e, ao receber
a oferta de um milionário para persuadir um herdeiro a voltar da
Europa, penetra na "dolce vita" na Costa Amalfitana.
Uma vez na Itália, ele se torna obcecado pelo alvo de sua missão, o
"bon vivant" Dickie Greenleaf (Johnny Flynn), e ressentido de todos que
concorrem por sua atenção, como a namorada Marge —Dakota Fanning, muito
melhor do que a versão bobinha de Gwyneth Paltrow no filme de 1999— e o
amigo Freddie —Elliot Sumner nesta versão, um tanto ofuscado pelo da
anterior, Philip Seymour Hoffman.
Aos poucos, os crimes de Ripley ganham estatura, e ele só se sente
bem quando finge ser outra pessoa. Assim, passa a viver em constante
fuga, metafórica e literalmente.
O livro foi escrito em 1955, a minissérie transcorre nos anos 1960.
Seria tentador "atualizar" o enredo, mas o ar anacrônico de algumas
situações, como a impossibilidade de Ripley se reconhecer como
homossexual, mostram que a culpa e a paranoia que o personagem
experimenta não estejam tão no passado assim.
A minissérie "Ripley", em oito episódios, está disponível na Netflix